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quarta-feira, 20 de março de 2013

ESCOLA DE ESCÂNDALOS


Formado em 1982  atuaram até 1986. Participaram com duas músicas Complexus e Luzes do LP Rumores uma coletânea de músicas de grupos brasilienses. Possuem ótimas letras e até hoje se pergunta porque não fizeram sucesso? 
Formação: Bernardo Mueller, Geraldo Ribeiro,   Luis Eduardo Ferreira,  Eduardo Espinoza Raggi. 


HISTÓRIA



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Rock Brasília, 1985

Coletânea Rumores registra momento único da música brasiliense, com as bandas Detrito Federal, Elite Sofisticada, Escola de Escândalo e Finis Africae 


Arquivo 


Escola de Escândalo - 1984 
Também no rock’n’roll, existem os românticos e existem os céticos. Quinze anos depois, Rumores, o primeiro LP independente de bandas do Distrito Federal, divide opiniões entre os envolvidos. 
‘‘Rumores é um marco do rock brasiliense, pois mostra que as bandas que tinham ido para o Rio e São Paulo não eram casos isolados. O disco provou que existia mesmo uma cena na cidade, com diversos talentos e estilos musicais diferentes’’, analisa Ronaldo Pereira. 
O baterista, único sócio-fundador que restou no Finis Africae versão 2000, resume a corrente de pensamento que defende Rumores, por revelar novas bandas, antes que o ‘‘rock brasiliense’’ fosse resumido pela mídia nacional à trindade Legião Urbana, Plebe Rude e Capital Inicial. 
Rumores, comparada com outra coletânea de bandas brasilienses, a Rock Brasília Explode Brasil, tem a seu favor o fato de ter sido independente, e não uma armação da mega-gravadora BMG. Como conseqüência, a bolacha traz duas faixas de cada banda, em vez da célebre uma-música-de-cada-artista, tática comum aos chamados paus-de-sebo, aquelas compilações armadas para testar o potencial radiofônico de várias bandas de uma só vez. 
Eduardo Espinoza, o popular Balé, ex-baterista do Escola de Escândalo, não tece tantas loas ao projeto. ‘‘O disco não alterou nossa carreira. Foi apenas aquela coisa cult de duas mil cópias, que acabaram ficando apenas nas mãos de amigos e outros músicos’’, acredita, confessando que, há pouco, gravou seu vinil malhado num CD-R. 
O Escola de Escândalo, nos idos de 1985, era a quarta maior banda da cidade. Quando Rumores foi editado, a banda já lotava shows no Rio de Janeiro, no circuito new wave de Circo Voador, Mistura Fina, Noites Cariocas e Parque Laje. 
Para Balé, a gravação de Rumores não chega a ser uma memória idílica. Até porque a banda teve de enfrentar uma viagem de ônibus direto do Rio, onde acabara de fazer um show, para Belo Horizonte, lar do estúdio Bemol. A idéia de gravar o disco em Minas Gerais foi do produtor Isnaldo Lacerda Jr. ‘‘Ele dizia que saia mais barato, pois tinha um acerto com o dono do estúdio’’, lembra Paulo César Cascão. Lá foi o Detrito Federal gravar na mesma mesa de som em que passaram O Terço e 14 Bis. 
Nas noites de sexta-feira, Isnaldo embarcava uma banda para Belo Horizonte. Depois do Escola, foram Detrito, Elite Sofisticada e Finis Africae. Uma por semana, ao longo de junho. Todo mundo em ônibus de linha, tipo Itapemirim ou Penha. Gravavam e mixavam as músicas no sábado, rapidinho, para voltar no domingo. 
O esquema era punk, mas soava maravilhosamente bem aos ouvidos do Elite Sofisticada, que tinha produzido sua demo num Akai fuleiro de duas pistas, num estúdio do Brasília Rádio Center. 
O nome quarteto nascera numa gaiatice de Renato Rocha, o Negrete, baixista da Legião Urbana. ‘‘Se os filhos de professores da UnB são a Plebe Rude, vocês, que são uns ferrados, devem ser a Elite Sofisticada’’, brincou Negrete, numa noite como outra qualquer de 1982, quando eles voltavam para casa andando, depois dum agito na discoteca da Associação dos Servidores Civis do Brasil (Ascb), no Setor de Clubes Norte, perto do Minas Brasília. 
Baterista sem bateria na época do Elite Sofisticada, Rogério Lopes é daqueles que não guardam apenas boas memórias dos anos roqueiros. ‘‘Chegamos a um ponto que ninguém mais agüentava gastar dinheiro alugando salas de ensaio’’, lembra o atual professor de psicologia, que agora tem uma Premier em casa, para quando quiser incomodar os vizinhos. 
E a concorrência era feroz. ‘‘Não dava para vacilar. Acho que se alguém visse no estúdio a fita master de uma outra banda, não ia pensar duas vezes se tivesse a chance de jogá-la no lixo’’, testemunha Rogério. 
Balé também guarda seus rancores. Mas por outro motivo. O Escola de Escândalo chegou a viajar até o Rio, para gravar nos estúdios da EMI o material de seu primeiro disco. Produção de Philippe Seabra, da Plebe Rude. Com o material eternamente engavetado, via bandas com menos tempo de ralação, como o Arte no Escuro, protegido de Renato Russo, lançarem seus discos na praça, pela mesma EMI. ‘‘Nós lá, na mesma, e outros levando a grande vida...’’ 

PICHAÇÃO 
Rumores pegou as quatro bandas em fase de transição. Todas perderiam seus vocalistas originais. Marielle, que canta boa parte de Complexos, seria chutada do Escola de Escândalo em questão de semanas. Rodrigo Leitão sairia do Finis Africae em questão de dias. No show de lançamento do disco, na Concha Acústica, o frontman já era Eduardo de Moraes. No Detrito Federal, Podrão perderia o posto para Cascão, que saiu da bateria para assumir o microfone. No Elite Sofisticada, Luís Gastão foi trocado por Ricardo Junqueira. Tamanho troca-troca faz de Rumores um registro ainda mais arqueológico. 
Com as bandas e seus cantores ainda às boas, foi feita a foto oficial do LP. Reinaldo Freitas registrou os 17 músicos no gramado em frente ao antigo Teatro Rola-Pedra, em Taguatinga, um dos points mais democráticos do Rock Brasília anos 80. O registro parou, em tom verde-sépia, no encarte do vinil, que trazia a letradas oito canções (sim, naquela época letras importavam). 
Mas a tal foto acabou ficando menos famosa que a da capa: um jovem olhando para baixo, com o nome Rumores pichado num pilotis de ladrilho, descaradamente candango. Outra fotografia de Reinaldo. O modelo é seu irmão, Ronaldo Freitas, que no mesmo ano montaria a banda Sobrinhos de Capone e hoje trabalha como taquígrafo na Câmara Legislativa. Reinaldo, há anos, comanda a Berlim Discos, no Conic. A pichação foi feita pelo próprio fotógrafo, no Atlântico Hotel, no centro de Taguatinga. Não se sabe por quanto tempo sua obra durou, pois Reinaldo não voltou ao local do crime. 
Nem o rock brasiliense voltou a ser como era. A maioria das coletâneas independentes funciona hoje em esquema de cooperativa. Cada banda paga uma porcentagem do preço de produção, para ter seu lugarzinho no disco. As ilusões perdidas. (Bernardo Scartezini)

Bernardo Scartezini
Da equipe do Correio



FOTOS








































LETRAS

COMPLEXUS 
  
Passo horas seguidas 
olhando minha imagem no espelho 
Vejo o defeito 
como seria bom não tê-lo 
Mudo de ângulo, tento esconder 
Tento disfarçar 
Mas este problema 
nem um milhão de anos 
irão apagar 
Ninguém é perfeito 
mas isso não é consolo 
Obstáculos que não me deixam passar 
Tentáculos que tentam me segurar 
Corrente contra a qual é inútil nadar 
Âncora que não me deixa avançar 
Complexus, complexus, complexus 
Qualquer desvio do normal é visto como uma fraqueza, 
Mas quem foi que instituiu esses padrões de beleza 
Imagine um mundo onde não houvesse comparação 
Quem nos salvaria da monotonia da perfeição 
  
  
LUZES 
Luzes que piscam, 
gritam e avisam 
que chegou a hora 
que você sonhou 
são anos de espera 
que chegam ao fim 
um frio desce a espilha, 
apesar do calor 
você se esforça para aparentar 
toda a calma que lhe falta 
o medo te assalta tudo pode dar errado 
você está apavorado 
você está em pânico, 
mas agora não tem volta, 
algo te impulsiona 
e as luzes coloridas não páram de piscar 
nos seus sonhos tudo era perfeito 
Rodolfo Valentino nao faria melhor 
nos seus sonhos tudo era perfeito 
Giovane Casa Nova não faria melhor 
Rodolfo Valentino nao faria melhor 
Giovane Casa Nova não faria melhor 
  
nos seus sonhos tudo era perfeito 
Rodolfo Valentino nao faria melhor 
nos seus sonhos tudo era perfeito 
Giovane Casa Nova não faria melhor 
Rodolfo Valentino nao faria melhor 
Giovane Casa Nova não faria melhor 
  
Você olha seus amigos 
que riem à vontade 
porque você 
não pode ser assim 
por trás do sorriso 
se esconde o medo 
e ele é tão grande 
quanto este seu  
vocês tentam agir 
de maneira casual 
como se isso fosse 
corriqueiro e banal 
mas a verdade transparesse 
no rosto de vocês 
é mais que o ululante 
que é a primeira vez 
e a agora que acabou 
você nem reparou 
que as luzes não piscam 
com a mesma intensidade 
          

POPULARIDADE 
  
Eu me isolei 
eu virei uma ilha 
os amigos que eu tinha eu não pude segurar 
sempre me julguei uma rocha inabalável, 
mas agora estou cada vez mais vulnerável 
popularidade era embriagante 
mas a ressaca não falha em chegar 
pior do que o desprezo só mesmo o silêncio 
a indiferença é a pior humilhação 
pessoas são volúveis amizades são solúveis 
um dia eles ti amam e no outro ti odeiam 
odeiam odeiam odeiam odeiam 
quando você chega e ninguém vem conversar 
e o telefone ele pára de tocar 
quando você começa a sair sozinho 
passa a noite inteira sem uma companhia 
então você sabe que saiu de moda 
não tem mais amigos 
está fora da roda 
você vai ver como é ruim a solidão 
e vive sem receber atenção 
  
  
O GRANDE VAZIO 

Até quando o sucesso dos amigos 
será suficiente para ti satisfazer 
quando você vai deixar de ser o conhece 
para se tornar aquele que é conhecido 
ou você cruza 
a ponte sobre o passo 
por onde passa o rio do fracasso 
para chegar na terra da realização 
ou então se esconde do lado da frustração 
sonhos e planos de pouco adiantam 
se permanecerem só sonhos e planos 
alguma combinação de transpiração e inspiração 
é a única solução 
ou você cruza 
a ponte sobre o passo 
por onde passa o rio do fracasso 
para chegar na terra da realização 
ou então se esconde do lado da frustração 
nunca mais, nunca mais 
você espera sem perceber 
enquanto esperava ele já passou 
desapercebido e levando consigo toda a juventude esperança e romance 
ou você cruza 
a ponte sobre o passo 
por onde passa o rio do fracasso 
para chegar na terra da realização 
ou então se esconde do lado da frustração 
nunca mais, nunca mais, nunca mais, nunca mais 
  

LAVAGEM CEREBRAL 
  
Puxe uma poltrona 
aperte o botão 
acerte o volume 
preste atenção 
são coisas tão incríveis que saem daquela tela 
é tudo empurrado 
pela sua goela 
  
Lavagem cerebral 
preste atenção nos comerciais 
  
Lavagem cerebral 
tão sutiu que você pedi mais 
  
Lavagem cerebral 
  
Não, não vá embora 
não desligue o botão 
já vem vindo aí a próxima atração 
e você nem imagina 
que este comercial 
seja lá no fundo 
uma lavagem cerebral 
  
Lavagem cerebral 
preste atenção nos comerciais 
  
Lavagem cerebral 
tão sutiu que você pedi mais 
  
Lavagem cerebral 
  
Lavagem cerebral 
preste atenção nos comerciais 
  
Lavagem cerebral 
tão sutiu que você pedi mais 
  
Lavagem cerebral 
tão sutiu que você pede mais 
controlando tudo o que você faz 
  
Lavagem cerebral 
tão sutiu que você pedi mais 
pedi mais, pedi mais, pedi mais oiehh 
  
  
AS LETRAS ABAIXO POSSUEM ERROS, OU ESTÃO INCOMPLETAS 



HOMEM PÚBLICO

PARA QUE ELE ENTRE NOVAMENTE NO JORNAL
PARECE UM HOMEM ÍNTEGRO
QUE ESTÁ SEMPRE NA LINHA
NA PORTA FECHADA
COMO SERÁ ELE
MUITO MAIS SUJEIRA DO QUE VOCÊ IMAGINA

A TENDÊNCIA É OUTRA
A APARÊNCIA ATRAI
VOCÊ  A FACHADA
A DECADÊNCIA TRAI

É UM ESCÂNDALO
UM ESCÂNDALO
UM ESCÂNDALO

TUDO BEM É PERIGOSO
É UM RISCO CALCULADO
GERALMENTE DÁ CERTO, 
MAS PODE DAR ERRADO
ELES NÃO SE PREOCUPAM
QUEM PAGA É VOCÊ
SE NÃO FOSSE TRÁGICO
SERIA ENGRAÇADO


A TENDÊNCIA É OUTRA
A APARÊNCIA ATRAI
VOCÊ  A FACHADA
A DECADÊNCIA TRAI

É UM ESCÂNDALO
UM ESCÂNDALO

UM ESCÂNDALO

FALTA DE DECORO E PORNOGRAFIA
SÃO ESPAÇOS LIVRES, MAS NINGUÉM PODE SABER
É UM PRATO CHEIO PARA SENSACIONALISTAS
SE ELES DESCOBRIREM
A BASE VOCÊ VÊ

A TENDÊNCIA É OUTRA
A APARÊNCIA ATRAI
VOCÊ VÊ A FACHADA
A DECADÊNCIA TRAI


SOTÃO

ESCONDIDO NO SÓTÃO
COM COISAS PROIBIDAS
O CORAÇÃO NA BOCA
E AS MÃOS TREMENDO

UM ANJO RUGI NO OMBRO
GRITA NÃO, E NÃO E NÃO E NÃO
MAS UM AMULETO TEM MAIS PESO QUE A RAZÃO
NEM A CIÊNCIA DO PERIGO
É CAPAZ DE DISSUADI-LO
NEM A EMINÊNCIA DO CASTIGO
É CAPAZ DE DISSUADI-LO
DISSUADI-LO 
DISSUADI-LO 
DISSUADI-LO 
DISSUADI-LO

SEDUZIDO, ATRAÍDO, PELO QUE É PROIBIDO
SEDUZIDO, ATRAÍDO, SÓ PORQUE É PROIBIDO

ANOS E NADA ADIANTARIAM CONSELHOS E AMEAÇAS.
IMPLODINDO REGRAS, DIFÍCEIS DE APAGAR
NEM O PASSAR DOS ANOS IRÃO CONVENCER
QUE O CRIME E O PECADO JAMAIS EXISTIRAM
NEM A REFORMA DO QUADRANTE
É CAPAZ DE DISSUADI-LO
NEM AMEAÇAS CONSTANTES
É CAPAZ DE DISSUADI-LO
DISSUADI-LO 
DISSUADI-LO 
DISSUADI-LO 
DISSUADI-LO

SEDUZIDO ATRAÍDO, PELO QUE É PROIBIDO
SEDUZIDO ATRAÍDO, SÓ PORQUE É PROIBIDO

ATÉ HOJE ADULTO, AINDA O ATORMENTAM
TODO O TIPO DE CULPA
TODO O TIPO DE TRAUMA
É A CONTRADIÇÃO QUE TANTO O DIVIDE
ENTRE OS DESEJOS, DO CORPO E DA ALMA
NEM A CIÊNCIA DO PERIGO
É CAPAZ DE DISSUADI-LO
NEM A EMINÊNCIA DO CASTIGO
É CAPAZ DE DISSUADI-LO
DISSUADI-LO 
DISSUADI-LO 
DISSUADI-LO 
DISSUADI-LO


QUATRO PAREDES

O SENSO DE ESPAÇO
QUE DE TEMPO FOI TOMADO
O MUNDO É UMA CELA
E O TEMPO ESTÁ PARADO
QUATRO PAREDES OITO ANOS
TUDO EM VOLTA É CIMENTO
E COMO COMPANHIA
SÓ OS MEUS PENSAMENTOS

UM APÓS O OUTRO
CADA DIA PASSA
EU VOU MARCANDO O TEMPO
ENQUANTO ELE ME MATA
É MONOTONIA NO SEU LIMITE EXTREMO
FALTANDO O QUE FAZER 
MATA COMO VENENO

ANOS SEGUIDOS SEM SOM E SEM RUÍDO
SEGUNDOS E MINUTOS, HORAS TI ETERNIZANDO
MEUS OLHOS E OUVIDOS PERDEM SEUS SENTIDOS
SEGUNDOS E MINUTOS, HORAS TI ETERNIZANDO
DESCE, DESCE, DESCE ESCURIDÃO DO CÉU
SEGUNDOS E MINUTOS, HORAS TI ETERNIZANDO
DESCE, DESCE, DESCE ESCURIDÃO DO CÉU
SEGUNDOS E MINUTOS, HORAS TI ETERNIZANDO

CAI A AREIA
E O PENDULO BALANÇA
AOS POUCOS SE DISSIPA 
A MINHA ESPERANÇA
EU SEI QUE NESTE ESCURO
É JUSTIFICAÇÃO
AQUI SOBREVIVÊNCIA
É A RELIGIÃO

DE REPENTE ESTOURO, 
O MUNDO ACABOU
NÃO É SÓ UM GRITO ALGUÉM NÃO AGÜENTOU
SEGUIR ESTE CAMINHO 
OU IR ATÉ O FIM
SERÁ QUE ALGUÉM LÁ FORA
JAMAIS PENSA EM MIM

ANOS SEGUIDOS SEM SOM E SEM RUÍDO
SEGUNDOS E MINUTOS, HORAS TI ETERNIZANDO
MEUS OLHOS E OUVIDOS PERDEM SEUS SENTIDOS
SEGUNDOS E MINUTOS, HORAS TI ETERNIZANDO
DESCE, DESCE, DESCE ESCURIDÃO DO CÉU
SEGUNDOS E MINUTOS, HORAS TI ETERNIZANDO
DESCE, DESCE, DESCE ESCURIDÃO DO CÉU
SEGUNDOS E MINUTOS, HORAS TI ETERNIZANDO

O SENSO DE ESPAÇO
QUE DE TEMPO FOI TOMADO
O MUNDO É UMA CELA
E O TEMPO ESTÁ PARADO
QUATRO PAREDES OITO ANOS
TUDO EM VOLTA É CIMENTO
E COMO COMPANHIA
SÓ OS MEUS PENSAMENTOS



AS MÁS LÍNGUAS

AS MÁS LÍNGUAS ATACARAM
ESTÃO FALANDO DE VOCÊ
AS PESSOAS ESTÃO RINDO
ESTÃO OLHANDO PRA VOCÊ
O BOATO VAI PASSANDO DE BOCA EM BOCA
SEMPRE AUMENTANDO SE MULTIPLICANDO
AGORA NÃO HÁ NADA QUE VOCÊ POSSA FAZER
DIVIDIR É CONFIRMAR, CALAR É CONSENTIR
RUMORES, BOATOS
RUMORES, BOATOS

A SUA PERSONALIDADE
SUA CREDIBILIDADE,
JÁ NÃO ESTÃO MAIS 
SOB O SEU CONTROLE
O BOATO TEM RAÍZES AS MÁS LÍNGUAS DIFAMARAM
QUEM VAI DUVIDAR DO QUE ELAS FALARAM
UMA PEQUENA MANCHA NA SUA HISTÓRIA
VIRA UM MAR DE LAMA PARA SEMPRE NA MEMÓRIA

OS BOATOS ATACARAM
E LOGO SE ESPALHARAM
RODINHAS DIVULGARAM
SENTIDOS QUE ANOTARAM
MUITOS SE ESPANTARAM
TANTOS DUVIDARAM
ALGUNS SE FALARAM
MAS NÃO IGNORARAM
JAMAIS PUBLICARAM
REGRAS DEFINIRAM
ANTENAS CAPTARAM
TELAS DESFIZERAM
................. ACATARAM
TAMBORES RUFARAM
LENDAS SE CRIARAM
LENDAS SE CRIARAM
LENDAS SE CRIARAM


QUANDO MUITOS VIRA DEMAIS

VOCÊ CONFUNDE
SEMPRE A DIFERENÇA
ENTRE O SEU CORAÇÃO
E OS SEUS GENITAIS
E NÃO IMAGINA A TRISTEZA
QUE O USO DE AMBOS ME TRÁS
VOCÊ JÁ TEVE 
MUITOS E MUITOS CASOS
O QUE NÃO É PROBLEMA ALGUM
NÃO É NADA INCOMUM
ATÉ QUE MUITOS VIRE DEMAIS
E O ENCANTO FIQUE PARA TRÁS

QUANDO MUITOS VIRA DEMAIS
O ENCANTO SE DESFAZ

A SENSUALIDADE
QUE VOCÊ EXPELIA
AGORA SE EXPIRA COMO UMA VELA
A CHAMA DA SUA ATRAÇÃO
NÃO É MAIS O QUE ERA

QUANDO MUITOS VIRA DEMAIS
O ENCANTO SE DESFAZ

AOS POUCOS O DESGASTE CORROE SUA
MORAL DE RUA
VOCÊ ESTAVA COBERTA DE RESPEITO
E AGORA ESTÁ QUASE NUA
QUANDO MUITOS VIRA DEMAIS

DO HOMEM QUE TENTE
SE TORNA ATRAENTE
NÃO PARA O OLHO SENSUAL
MAS PARA O ESPIRITUAL
ATÉ QUE EU NÃO SINTA MAIS CIÚME
SÓ AVERSÃO IMPERA

QUANDO MUITOS VIRA DEMAIS
O ENCANTO SE DESFAZ

QUANDO MUITOS VIRA



REPORTAGEM CORREIO BRASILIENSE DE 16 NOV 2000


Rumores

15 anos depois, a história da mais lendária coletânea de bandas brasilienses


Finis Africae e Escola de Escândalo dividiam o mesmo estúdio, no Brasília Rádio Center. O baixista do Escola, Geraldo Ribeiro, era (é) irmão de Rogério Lopes, baterista do Elite Sofisticada. O terceiro irmão, Loro Jones, naqueles tempos já estava se bandeando para o Rio de Janeiro, com o posto de guitarrista do Capital Inicial. Era 1985. 
Assim como a Plebe Rude e a Legião Urbana, o Capital estava armando contrato com uma grande gravadora. Hoje em dia até soa irônico, mas o rock de Brasília estava entrando na moda. 
E a moda não passava muito perto de Taguatinga. Embora os músicos passassem. O Sebo do Disco, a loja de número 12 do Paranoá Center, era bem freqüentada. O dono, Isnaldo Júnior, tinha parceria com outras lojas de LPs independentes daquele tempo, como a badalada Baratos Afins, das Grandes Galerias, na 24 de Maio, São Paulo. Foi Isnaldo quem teve a idéia de montar uma coletânea com as bandas da cidade (ainda) não descobertas por EMI, PolyGram e congêneres. 
Rumores, a bolacha lançada em agosto de 1985, tem nome significativo. Os rumores de estúdios, shows e novidades, numa cidade com bandinhas pululando em cada superquadra, a cada colina. Os rumores do rock da capital federal, que começavam a tomar de assalto as paradas nacionais. 
O Escola de Escândalo foi a primeira das quatro bandas a fechar com o Sebo do Disco. Afinal, suas músicas, com destaque para Luzes, tocava em rádios roqueiras, como a brasiliense Atlântida FM e a carioca Fluminense FM, ambas extintas. Afinal, o Escola tinha Fejão, o maior guitarrista do Distrito Federal. Afinal, o Escola era daquelas bandas que tinha tudo para estourar. Finalmente, porque os direitos das duas faixas de Rumores destinadas para cada banda ficariam com o mecenas Isnaldo Júnior por 10 anos, conforme previsto em contrato. E roqueiro não costuma ler as letras miudinhas. 
Depois do Escola, o esquema foi no estilo um-conhece-o-outro-que-conhece-mais-um-que... Entrou o Finis Africae. Entrou o Elite Sofisticada. Zebra: entrou o Detrito Federal. A banda tinha Taguatinga como endereço oficial, embora seus músicos se espalhassem também por Guará e Plano Piloto. O Detrito não pertencia à turminha. Mas o baterista Paulo César Farias, o Cascão, era um dos clientes mais dedicados do Sebo do Disco. E, claro, Fim de Semana e Desempregado, as duas tijoladas punk do quarteto no vinil, falam por si só. 
O show de lançamento de Rumores rolou em 25 de agosto de 1985, na Concha Acústica. Tocaram as quatro bandas envolvidas, com abertura do Liberdade Condicional, atração já fechada para o segundo volume da compilação, que sairia no ano seguinte. Mas não saiu nunca. O Sebo do Disco quebraria em 1992, depois de ter tido filiais no Gilberto Salomão e no Venâncio 2000. Assediado por cobradores, Isnaldo voltou para sua terra natal, a Paraíba, e nunca mais mandou notícia. 
Rumores vendeu as duas mil cópias de sua tiragem única. Hoje cada uma delas é disputada no braço. Luiz Calanca, da Baratos Afins, lembra ter vendido um vinilzinho por R$ 60,00. Tem quem pague R$ 100,00. Uma relíquia dos tempos mais românticos do Rock Brasília. Ou não.


Detrito Federal 
(1983-1997) 

Músicas em Rumores 
Desempregado e Fim de Semana 

Formação em 1985 
Alex Podrão (vocal), Bosco (guitarra), Mila (baixo) e Paulo César Cascão (bateria) 

Que fim levou 
Rumores rendeu passaporte para o Rio de Janeiro. O Detrito foi escalado na estréia do Mixto Quente, programa roqueiro da Globo. Cascão já assumira os vocais, posto deixado por Podrão, que mais tarde montaria 
o BSB-H. Em 1987, sai pela PolyGram Detrito Federal, o LP, com Syoung (que iria para o PUS) nas guitarras e Débora na bateria. No ano seguinte, o Detrito entra na trilha de Rádio Pirata, filme de Lael Rodrigues. A carreira segue, errática, até o festival 
Abril Pro Rock de 1997, em Recife, espécie de show de despedida. Cascão hoje é advogado. Podrão se formou em História. Mila, que passou pelo Volkana, mora no Rio. Bosco é funcionário público. 

‘‘Fim de semana 
Sem ter o que fazer 
Há festa na cidade 
Mas não há para você 
Os bares estão cheios 
Todos a se divertir 
Mas você não tem dinheiro 
Não adianta insistir 
Fim de semana amaldiçoado 
Fim de semana sem nenhum trocado...’’ 
Fim de Semana 


Elite Sofisticada 
(1982-1988) 

Músicas em Rumores 
Fuga e Sozinho 

Formação em 1985 
Luís Gastão (vocal), Tonho (guitarra), Marcelo Gomes (baixo) e Rogério Lopes (bateria) 

Que fim levou 
Depois de Rumores, o baixista Marcelo pediu as contas. A Elite Sofisticada conseguiu emplacar uma segunda coletânea, desta vez no pau-de-sebo da BMG Rock Brasília Explode Brasil, de 1986, inteiramente dedicado a bandas candangas. A Elite entrou com Tudo Mal, faixa que também foi gravada pelo Capital Inicial. Seguiram fazendo shows pela cidade, mas as datas foram rareando, rareando, até o conjunto encontrar um fim tácito, no início de 1988. Antônio Elias, o Tonho, trabalha na Fundação Educacional. Marcelo Gomes é funcionário público e Rogério Lopes, professor de psicologia da Faculdade Dulcina. Luís Gastão mora em Vila Velha (ES), onde é representante de vendas. 

‘‘...Onde estavam todos? 
Confuso, eu queria saber 
Apenas para entender 
Onde estavam todos?...’’ 
Sozinho 



Escola de Escândalo 
(1984-1990) 

Músicas em Rumores 
Complexos e Luzes 

Formação em 1985 
Bernardo Mueller e Marielle Loiola (vocal), Fejão (guitarra), Geraldo Ribeiro (baixo) e Balé (bateria) 



Que fim levou 
Antes mesmo de sair Rumores, as duas faixas, Luzes e Complexos, tocavam em rádios rock de Rio, São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte. Logo depois da coletânea, Marielle saiu da banda — para fazer o Arte no Escuro (mais tarde lideraria o Volkana). Pela lei natural das coisas, a Escola seria 
a-próxima-banda-de-Brasília-a-estourar. Não foi. Em 1986, gravaram um EP na EMI, que nunca veria luz do dia. Em 1988, Fejão foi preso por porte de drogas. Com o guitarrista solto, em 1990, a banda ainda fez alguns shows. Fejão morreu em julho de 1996. Hoje, Eduardo Espinoza, o Balé, trabalha com música eletrônica e é designer. Geraldo Ribeiro, dono de estúdio. Bernardo Mueller, professor de Economia da Universidade de Brasília. Marielle mora em Curitiba e toca na banda Cores D’Flores, que participou do Porão do Rock em agosto. A Escola foi convidada para participar do Porão, mas os ex-integrantes acabaram não se acertando. Resta ouvir Luzes, regravada pela Plebe Rude em seu disco ao vivo deste ano, Enquanto a Trégua não Vem. 

‘‘Luzes que piscam 
Gritam e avisam 
Que chegou a hora 
Que você sonhou 
São anos de espera 
Que chegam ao fim 
Um frio desce a espinha 
Apesar do calor...’’ 
Luzes 

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